Para começar é importante compreender o que é dependência emocional e o que não é.

Na nossa cultura é comum vermos uma romantização do amor dependente e podemos constatar através de falas como: “você é a minha vida”, “tudo que eu faço é por você”, “a minha vida não tem sentido sem você” ; “eu vivo por você”, e por aí vai. Essas frases, frequentemente, são utilizadas com o intuito de dar intensidade ao amor, como se precisasse sentir desta forma para parecer legítimo.

Nosso primeiro modelo de amor é através de nossos pais/cuidadores, tanto em relação a forma de amar ao outro, mas sobretudo a amar a si mesmo. Então para entender um pouco melhor sobre essa forma de nos relacionarmos, vamos lembrar sobre os estilos de apego.

A forma como nos vinculamos, desde a primeira infância, contribui para a nossa sobrevivência, desenvolvimento físico, social e emocional. Ainda que as nossas relações amorosas na fase adulta não sejam idênticas as da infância, há uma grande similaridade com a forma que aprendemos a nos vincular com os nossos cuidadores e outras pessoas, ou seja tendemos a reproduzir esse aprendizado em novas relações que experimentamos.

Sendo assim, quando os cuidadores oferecem a proteção e segurança emocional para que a criança se aventure, explore o ambiente, experimente novos objetos e etc, contribuem para o desenvolvimento uma forma de apego mais saudável e funcional, chamada de apego seguro.

É natural termos uma certa “dependência” nas relações que estabelecemos, mas quando ela mostra-se de forma saudável, busca-se no parceiro um apoio para trocar percepções sobre situações comuns ou um conselho antes de tomar decisões, por exemplo. Mas a partir daí a pessoa consegue seguir com as suas próprias decisões e ações. Não se trata de uma relação de precisar que o outro decida o que deve ser feito.

Porém quando nos referimos à dependência emocional, está muito mais ligada a uma necessidade excessiva do outro para nos sentirmos seguros, validados, protegidos e felizes. Essa necessidade pode trazer prejuízos a medida que leva a pessoa que se relaciona de forma dependente a não conseguir abrir mão de uma relação, mesmo que essa seja bastante abusiva, ou seja, mesmo causando danos em vários aspectos, sejam emocionais, financeiros, físicos, a pessoa não consegue finalizar o relacionamento. Muitas vezes ela acredita não ser capaz de seguir sozinha.

Nesta forma de se relacionar, a pessoa com dependência emocional terceiriza a sua vida ao outro, a medida que não é a própria pessoa que a conduz, analisa ou decide, mas sim vai sendo levada pelo que acredita que a outra pessoa quer que ela faça. Se por um lado parece ser confortável ter alguém suprindo essa necessidade, por outro a pessoa dependente pode viver em constante sensação de ameaça de perder esse par e com isso sentir-se desamparada, desprotegida e abandonada.

É Importante compreender que o desejo de estar com alguém, mas conseguir ficar bem sem a outra pessoa não caracteriza a dependência. Por outro lado, a percepção de incapacidade de viver sem a outra pessoa é um importante aspecto a ser observado. Estar com a outra pessoa porque você quer é diferente de estar porque você precisa.

O que está por trás da dependência emocional?

Pode-se dizer que a dependência emocional é uma condição emocional e comportamental que interfere na capacidade de uma pessoa estabelecer relacionamentos saudáveis. De certa forma é expressa pela imaturidade emocional, para lidar com frustrações, incertezas, inseguranças, sensações de vulnerabilidade por estar sozinho, baixa autoestima ligada a percepção de não ser merecedor de estar com a outra pessoa, de ser amado, ou de viver um relacionamento saudável e feliz.

Como a dependência emocional se desenvolve?

Há uma variedade de causas complexas relacionadas para o desenvolvimento da dependência emocional. É preciso uma combinação de variáveis: biológicas, contexto de vida, temperamento, mas já sabemos que o contexto é uma importante variável contributiva.

Alguns dos fatores podem incluir:

  1. História de relacionamentos disfuncionais na infância: Experiências familiares na infância, como pais ausentes, negligentes, abusivos ou inconsistência nos cuidados, podem influenciar a forma como a pessoa se relaciona emocionalmente .
  2. Baixa autoestima: Indivíduos com baixa autoestima podem procurar validação e segurança emocional nos outros, tornando-se dependentes emocionalmente para preencher esse vazio emocional.
  3. Falta de habilidades de enfrentamento e autonomia: Pessoas que não aprenderam estratégias saudáveis para lidar com o estresse e as emoções podem depender dos outros para sentir conforto e apoio emocional.
  4. Medo do abandono e separação: O medo intenso de ser abandonado ou rejeitado pode levar alguém a buscar constantemente a aprovação e a companhia dos outros, mesmo em detrimento de sua própria saúde emocional.
  5. Modelos de relacionamento: A observação de modelos de relacionamento disfuncionais na família ou na sociedade pode influenciar as expectativas e comportamentos em relacionamentos na vida adulta.
  6. Experiência emocionais traumáticas, como abuso ou perda significativa, podem deixar cicatrizes emocionais que afetam a capacidade de uma pessoa para desenvolver relacionamentos saudáveis e independentes.
  7. Idealização do parceiro: A tendência de idealizar o parceiro e colocar todas as necessidades emocionais nele pode levar à dependência emocional, já que a pessoa busca, constantemente, a aprovação e a satisfação do parceiro.
  8. Falta de limites pessoais: A incapacidade de estabelecer e manter limites emocionais pode levar à fusão emocional com os outros, resultando em dependência emocional.

Como a dependência emocional pode ser superada?

Reconhecer quando a relação causa impactos negativos para si é um passo importante para trabalhar esses aspectos.

A terapia se propõe a ajudar a pessoa identificar e substituir padrões de comportamento negativos por outros mais realistas e funcionais.

O tratamento da dependência emocional pode envolver terapia, autodescoberta e desenvolvimento de habilidades emocionais saudáveis. É preciso superar os medos que estão por trás da dependência para melhorar a autoeficácia (percepção de sua capacidade), autoestima, autorrespeito e desenvolver habilidades para resolução de problemas.

Buscar ajuda de um profissional de saúde mental pode ser um passo importante para promover mudanças positivas e superar os prejuízos causados pela dependência emocional.

Se você quiser ler mais a respeito deste assunto, recomendo começar pelo livro Amar ou depender. Ele é de fácil leitura, do psicólogo e autor italiano Walter Riso.

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