O período que antecede o Natal e a virada para um novo ano normalmente despertam emoções variadas, em diferentes pessoas. Muitas relatam sentir depressão de fim de ano quando esse período se aproxima. Essa expressão costuma ser utilizada por pessoas que ficam mais tristes ou sensíveis em períodos específicos, como a chegada do Natal, mas também ocorre em outras datas comemorativas nas quais a pessoa (motivo da comemoração) já não está mais no seu convívio, como aniversário, dia das mães, dia dos pais por exemplo.

Enquanto algumas pessoas contam os dias para os encontros, celebrações e brindes, outras consideram este momento desconfortável, triste e/ou solitário.

Esta época do ano costuma ser sensível, especialmente, para algumas pessoas que já lidam com transtornos como ansiedade e depressão, mas até mesmo as pessoas mais introvertidas sentem-se exaustas com os eventos.

Razões comuns para depressão de fim de ano:

  • Culturalmente esta época do ano é vista como se fosse um “fechar de ciclo” para dar início a um novo. São feitas reflexões acerca dos eventos vividos no ano, como se fosse um balanço, analisando planos traçados X planos realizados. Quando esse saldo é avaliado como negativo, tende a gerar culpa e/ ou vergonha pelo que não foi atingido.
  • Existe uma pressão social para estar feliz e envolvido em celebrações durante o Natal (por vezes o mês de dezembro todo). Isso pode ser difícil para pessoas que estão lidando com desafios emocionais como a depressão, já que podem sentirem-se inadequadas por não atender às expectativas dos outros, nem desejar participar destes eventos.
  • Somado a isso, o Natal é, frequentemente, associado à família e às interações sociais. Pessoas que estão sozinhas ou se sentem isoladas podem experimentar sentimentos intensificados de solidão durante esse período.
  • Para aqueles que perderam entes queridos a data pode trazer à tona sentimentos de luto e saudade. Já para os que possuem memória de Natais passados em contextos mais conturbados, de desunião, as festividades podem servir como lembretes dolorosos. O Natal pode evocar memórias de eventos traumáticos do passado, agravando a ansiedade e a depressão.
  • Os apelos comerciais que envolvem a passagem do Natal, as despesas associadas às festividades, como presentes, decorações e refeições especiais, podem aumentar o estresse financeiro ou até mesmo levar ao endividamento. Isso pode ser especialmente preocupante para pessoas que já estão enfrentando dificuldades financeiras, mas se sentem “obrigadas” a fazer parte.
  • A ênfase cultural em obrigatoriamente estar alegre e feliz durante o Natal pode criar um sentimento de inadequação para aqueles que estão enfrentando desafios emocionais e não se sentem sintonizadas com todas as expectativas de comemoração.

O Natal pode ser uma época de alegria e celebração para muitas pessoas, mas é essencial ser respeitoso, compassivo e oferecer apoio àqueles que podem achar esse período, emocionalmente, mais desafiador.

Para as pessoas que lidam com experiências mais desafiadoras neste período do ano, recomendo algumas condutas que podem ser úteis.

Sugestões para lidar com a depressão de fim de ano

  1. Revise os pensamentos “catastróficos” que tentam antecipar um cenário difícil e indesejável. Questione essas ideias, pergunte a si mesmo se há evidências que as apoiem e considere alternativas mais equilibradas. Pergunte a si mesmo se há outra forma de compreender a situação em questão, ou se pode haver outro possível desfecho que não o pensado inicialmente. Algumas pessoas já começam a sofrer só com a possibilidade de que algo ruim possa acontecer.
  2. Defina metas alcançáveis para o período festivo. Evite expectativas irreais que possam contribuir para a manifestação de ansiedade ou frustração. Concentre-se em aproveitar os momentos em vez de buscar a perfeição, corresponder as expectativas dos outros ou fazer comparações injustas que coloquem você em desvantagem e que façam você se sentir culpado ou envergonhado.
  3. Frente a eventos e situações que possam gerar ansiedade, planeje como você pode enfrentá-los e tenha estratégias prontas para lidar com possíveis desafios. Isso vale também para aqueles encontros com pessoas que fazem cobranças como: “quando você vai encontrar um namorado”, “quando você terá um filho”, “quando você encontrará um emprego estável” e etc.
  4. Associado ao item anterior, defina limites toleráveis para que você não se sobrecarregue com tarefas ou demandas que roubem a sua energia e que sejam pouco significativas para você. Saia de conversas desgastantes e/ou improdutivas que não acrescentem nada e ainda deixem você para baixo.
  5. Busque apoio social em pessoas que você confie e sinta-se a vontade de expressar sobre seus sentimentos. Toda emoção é válida e você não precisa se exigir e se criticar por não sentir a euforia que, aparentemente, as outras pessoas sentem. Respeite seus sentimentos.
  6. Foque no momento presente e escolha interações positivas. Cuide de você, observe e reconheça as suas necessidades!

Se você se identificou com algumas destas experiências, considere buscar ajuda profissional não apenas para atravessar esse momento, mas para encontrar estratégias funcionais para lidar com seus próprios desafios. A psicoterapia pode ajudar você a melhorar a maneira como percebe e responde aos desafios durante momentos de maior vulnerabilidade.

Esse post não pretende direcionar você para um diagnóstico, até mesmo porque isso é muito mais complexo, só pode ser feito por um profissional qualificado a partir de critérios específicos. Também não pretende “prescrever” dicas “infalíveis”, mas sim oferecer a você um acolhimento para que você saiba que não está sozinho nesta jornada. Muitas pessoas sentem-se da mesma forma que você. Mas apesar de ser algo comum para muitas pessoas, pode ser desconfortável conviver com esses sentimentos e existe recurso para aprender a lidar melhor com a questão.

Fica também um alerta: É importante ficar atento a comportamentos de isolamento, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, drogas, ou até mesmo remédios, falas que sugerem auto agressão ou desejo de “acabar com tudo”. Essas expressões devem ser levadas a sério por familiares e amigos que as presenciem, ou pela própria pessoa. Algumas vezes as pessoas ignoram por achar que trata-se de uma brincadeira, ou que logo vai passar e evitam falar sobre o assunto não por desinteresse, mas por não saber como lidar.

Diante de alguma emergência, acione o CVV – Centro de Valorização da Vida, através do telefone 188, ou procure um hospital mais próximo.