Falar sobre obesidade não é uma questão de peso, vai muito além de falar sobre medidas, IMC (índice de massa corporal) e peso.
A obesidade é uma doença crônica, caracterizada pelo excesso de gordura corporal, em quantidades que causam risco à saúde. Uma consequência importante desta doença é que ela contribui para o desenvolvimento de outros problemas, como é o caso de diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares; mas também precisamos mencionar as doenças mentais como depressão, transtorno de ansiedade e transtornos alimentares (como transtorno de compulsão alimentar e bulimia nervosa).
A OMS (Organização Mundial de Saúde) afirma que a obesidade é um dos principais problemas de saúde pública do mundo e que mais de oitocentos milhões de pessoas sofrem com a doença. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2020, no Brasil a obesidade atinge mais de 25% da população.
Esses dados alarmantes mostram a importância de tratarmos o assunto com seriedade, respeito e ações efetivas para a prevenção e tratamento.
Muito temos que falar sobre esse tema para conscientizar a população, através de informações relevantes a respeito dos desafios e consequências da obesidade e também combater o estigma social que as pessoas acometidas pela doença, frequentemente enfrentam.
A obesidade vai além de ser uma doença com possíveis implicações na saúde física. A pessoa com obesidade convive diariamente com o preconceito e o julgamento por parte da sociedade que ainda trata do assunto como se fosse uma escolha estar acima do peso.
Mitos e verdades sobre a obesidade
Quando falamos sobre os efeitos colaterais da obesidade, muitas vezes associamos a comorbidades relacionadas à hipertensão, diabetes do tipo 2, distúrbios do sono que são implicações físicas, visíveis e, pode-se dizer, de aceitação social mais fácil.
O que poucas pessoas vêem são os efeitos menos perceptíveis por quem não convive com a doença e que causam silenciosos danos emocionais tão graves quanto os físicos.
Para começar essa conversa, é importante esclarecer que a pessoa com obesidade não está nesta condição por desleixo, preguiça, não ter força de vontade, autodisciplina ou qualquer outra razão que dependa apenas da sua vontade.
A obesidade é uma doença crônica multifatorial, ou seja sua origem conta com a combinação de vários fatores, desde genéticos, ambientais, desequilíbrios hormonais, metabólicos, uso de medicamentos, estilo de vida, alimentação inadequada em termos de quantidade e qualidade. Também aumenta a vulnerabilidade para o desenvolvimento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade, compulsão alimentar entre outras.
A desinformação e preconceito da sociedade, muitas vezes, leva as pessoas com obesidade ao isolamento social, evitação de ambientes como praias, piscinas, eventos que envolvam comida, academias (acredite, ocorre muito julgamento entre os frequentadores) e até mesmo reuniões familiares, onde as pessoas se sentem a vontade para “aconselhar”. Sem mencionar os locais com acessos difíceis, estreitos, poltronas apertadas que causam constrangimento e tratamento desigual quando comparadas com pessoas consideradas com peso “normal”.
Preconceito sobre obesidade
Alguns dos estigmas mais comuns associados à obesidade, que podem ter um impacto significativo na vida das pessoas que vivem com essa condição, incluem:
- Estigma Social: Pessoas com obesidade muitas vezes enfrentam discriminação e preconceito em suas interações sociais, incluindo bullying, exclusão e comentários negativos sobre sua aparência, como se isso a definissem enquanto pessoas
- Culpa e Falha Pessoal: Há uma percepção das pessoas em geral de que a obesidade é simplesmente o resultado de falta de força de vontade ou autocontrole, o que pode levar à culpabilização das pessoas por sua condição e à falta de compreensão sobre os fatores complexos que contribuem para o ganho de peso
- Acesso à Saúde: dentro do próprio sistema de saúde, incluindo tratamento inadequado, negligenciando outros sinais e sintomas, enquanto associa tudo à obesidade; falta de respeito por parte de alguns profissionais de saúde, não oferecendo uma maca ou cadeira apropriada para o porte da pessoa e suposições sobre sua saúde com base em sua aparência
- A representação estereotipada e negativa de pessoas com obesidade na mídia e na cultura popular, reforçada pelo estereótipo de magreza associado ao padrão de beleza, como sendo saudável e atingível por qualquer pessoas
- No ambiente de trabalho: Pessoas com obesidade podem enfrentar discriminação, incluindo preconceito na contratação, promoções perdidas e tratamento desigual
- Vida Cotidiana: O estigma da obesidade pode se manifestar em várias situações do dia a dia, desde dificuldades em encontrar roupas adequadas até o desconforto em frequentar espaços públicos, como academias, piscinas, cinema, avião e etc
Esses estigmas tendem a causar sérios impactos na saúde física e mental das pessoas com obesidade, contribuindo para problemas como baixa autoestima, isolamento social, depressão e ansiedade.
Uma fala frequente de clientes, que lidam com a obesidade e expressam a sua imensa dor, é que trata-se de uma doença que não passa despercebida aos olhos e julgamentos dos outros; “não tem como se reservar ao direito de mantê-la em sigilo”. Aliás a doença vira um adjetivo: “está vendo aquela pessoa gorda lá?”. Você já ouviu alguém ser identificado como aquela pessoa com câncer? Aquela pessoa hipertensa? Acredito que não, mas isso acontece com a pessoa com obesidade.
Somado a isso, escutam diariamente coisas como: tem um rosto tão bonito, pena ser gorda; com esse peso todo não vai arrumar namorado; você é bonita, já pensou em emagrecer? Você não engravida porque é gorda. Você não tem sucesso na carreira porque é gorda. E por aí vai…
Esse texto não é um culto à obesidade, mas se propõe a sensibilizar as pessoas em geral para uma compreensão ampliada sobre o tema e, quem sabe, oferecer suporte, sendo rede de apoio para as pessoas que gostariam de buscar mais saúde.
E você que protagoniza essa condição, não deixe de buscar ajuda profissional para apoiá-lo no enfrentamento deste desafio, seja no entendimento de por quais razões a obesidade ocorre com você, seja na definição de estratégias de controle ou gerenciamento da doença, psicoterapia, orientações ou suporte.
Por se tratar de uma doença com múltiplas causas, diferentes profissionais, como: psicólogo, nutricionista, endocrinologista e educador físico, cada um na sua área de conhecimento, podem ajudá-lo.