O Medo não é sinal de fraqueza ou de covardia como costuma-se pensar. É uma emoção básica, natural como tantas outras: alegria, tristeza, raiva, nojo…

Embora algumas destas emoções sejam mais agradáveis de serem sentidas, não é correto dividi-las entre boas e ruins, ou positivas e negativas. Todas as emoções são úteis e possuem uma função, seja na nossa adaptação ao ambiente, sobrevivência, comunicação com outras pessoas ou influenciar a nossa tomada de decisões.

Justamente pelo entendimento, na nossa cultura, de que o medo seja algo negativo, assumir essa emoção nem sempre é muito fácil e por isso muitas vezes nos referimos a ela com outros nomes, como se estivéssemos: confusos, apreensivos, receosos, nervosos, com aperto no peito e etc.

O medo muitas vezes vem acompanhado de uma sensação de impotência, perda de controle e perda da autoconfiança.

O medo é uma emoção que possui uma importante função: nos alertar quando estamos sob risco de perigo ou ameaça, seja real ou imaginária. Além disso, pode estar relacionado a um perigo físico mas também psicológico.

No passado, sentir medo protegia nossos ancestrais de uma exposição desnecessária a feras predadoras. Hoje em dia não precisamos mais lidar com esse tipo de situação, mas ainda passamos por outras que podem representar perigo.

Para os tempos atuais, pense numa situação como essa: imagine q vc precisa voltar para casa tarde da noite.

Você pode seguir por um caminho mais curto, através de uma rua mais deserta e escura, portanto com ingredientes que representam maior risco de sofrer um assalto ou outro tipo de violência. Por outro lado, vc tem a opção de ir por um caminho iluminado, com mais pessoas circulando, mas precisa andar uma ou duas quadras a mais. Qual vc escolheria?

Provavelmente o caminho mais seguro, apesar de ser um pouco mais longo, seria a sua opção. É o seu instinto de sobrevivência, portanto o seu “medo” de correr esse risco, desnecessariamente, ajudando você a tomar a melhor decisão.

A Terapia Cognitivo Comportamental compreende que o medo surge da interação complexa entre pensamentos, emoções, sensações físicas e comportamentos. Quando esses pensamentos estão distorcidos, a percepção que a pessoa costuma ter é que o mundo é um lugar perigoso e arriscado, ou que as coisas normalmente dão errado para ela, ou ainda que as suas possibilidades de ser bem sucedida são pequenas quando comparadas ao desafio, e podem contribuir para o aumento de medo e ansiedade.

Por que sentimos medo

O medo foi e é uma importante emoção que possibilitou a nossa evolução enquanto espécie. Imagine se não sentíssemos medo de nada, quantas vezes teríamos a nossa vida ameaçada por nos lançarmos sem a preocupação em nos proteger.

Durante a vida aprendemos a sentir medo de situações que possam ferir a nossa integridade física, psicológica, ou nos tornar vulneráveis, ou seja, é uma resposta de grande utilidade para a nossa preservação. Nesta mesma linha, as pessoas também costumam evitar situações para as quais não se sentem aptas e capazes.

Mas também é verdade que essa percepção e/ ou crença, algumas vezes, pode estar um pouco “descalibrada” e/ou distorcida, e com isso percebemos um risco maior que o real. Como consequência disso, podemos nos restringir de realizar diversas coisas na vida, além de esse viés nos impedir ou governar nossas atitudes e escolhas.

Para exemplificar, podemos citar a percepção de perigo de andar de bicicleta porque viu alguém caindo uma vez, não pedir uma informação a uma pessoa desconhecida devido ao medo de parecer bobo, não dirigir porque alguém falou que era perigoso, entrar em um elevador porque você já ficou trancado uma vez, não perguntar para sanar uma dúvida em uma reunião com receio de parecer estúpido, burro ou despreparado e etc.

O medo é criado a partir da nossa compreensão ou crença sobre a nossa capacidade de enfrentamento da situação. Imagine como se fosse um voz interna falando para você que não vai dar certo, ou que você não é “forte/ bom/ capaz” o suficiente para realizar ou enfrentar algo.

Dito isso, uma questão importante para pensarmos é se a nossa avaliação de ameaça é coerente ao estímulo/ objeto, ou se ela é desproporcional e desconectada da realidade.

Em alguns casos, o medo deixa de ser uma emoção natural e útil, manifestando-se como um sintoma de uma desordem mental como costumamos observar em pessoas acometidas pela síndrome do pânico, fobia a coisas específicas, transtorno de ansiedade e transtornos de estresse pós traumático, por exemplo.

Mas porque algumas pessoas sentem mais medo que outras?

Como falamos antes, o medo é uma emoção que pode ser aprendida a partir de uma experiência indesejada que tivemos (experiência direta); mas também podemos aprender por presenciar a experiência desafiadora de uma outra pessoa ou mesmo pelos relatos de experiência de outras pessoas.

Esse aprendizado, combinado com o nosso temperamento e variáveis do ambiente podem modular a intensidade de medo e a maneira de o enfrentamos. E essa combinação é individual.

Como lidar com o medo

Antes de qualquer coisa, é importante reconhecer e acolher essa emoção. Compreender qual a função do medo no nosso contexto, se ele é coerente, quais os prejuízos ele nos traz e por aí vai.

Embora, por vezes, pareça ser impensável, o medo, quando desproporcional à realidade, precisa ser gradualmente enfrentado. Note que não estamos falando de enfrentar um perigo real, que ameace a sua integridade, mas situações que comumente são tranquilas para a maioria das pessoas, como dirigir, andar de avião, mas que por algum motivo são limitantes para quem sente esse medo específico.

A estratégia de ir gradualmente enfrentando o medo costuma ser eficaz para o seu enfraquecimento; e o oposto também é válido, quanto mais evitamos tais situações e eventos, mais ele tende a se fortalecer e ser temido.

Mas não se trata de simplesmente enfrentar o medo. Inclusive se a pessoa não estiver preparada para isso, a experiência pode ser tão aterrorizante que pode se tornar uma barreia ainda maior. Esse enfrentamento, quando acompanhado por um profissional de saúde mental, é realizado de forma gradual, segura, respeitando os limites individuais.

A Terapia Cognitivo Comportamental possui protocolos bem fundamentados para o enfrentamento de desafios nesta área. Se você lida com questões relativas a esse assunto, não deixe de buscar suporte profissional.

Dependendo de como lidamos com o medo, com o passar do tempo, essa emoção pode ser abrandada em relação ao objeto ou situação que nos provocava esse sentimento desafiador e descobrimos formas de aprender a conviver com ele.