Quase todas as pessoas já sentiram ciúme em algum momento da vida, ou tiveram pensamentos de ciúme de alguém próximo, com o qual estabeleceram uma relação importante.
Ciúme é uma emoção normal, humana, assim como amor, medo, raiva e tantas outras. Como toda emoção que culturalmente é considerada “negativa” (prefiro chamar de dolorosa), frequentemente é vista como algo errado, inadequado ou não permitido e portanto, costuma causar sentimentos de vergonha e culpa.
O ciúme não se resume às relações amorosas, também pode ocorrer entre irmãos; entre colegas de trabalho que acreditam haver oportunidades desiguais ou privilégios para alguns; entre famílias reconstituídas após a separação dos pais e passam a contar com novos integrantes como, madrastas, padrastos e novos irmãos; entre amigos que acreditam haver uma preferência e confiança em um e não em outro.
Acontece com crianças, jovens e adultos que se conectam a alguém de forma especial. Aliás, raramente sentimos ciúme quando o relacionamento é superficial ou casual. Essa emoção aflora muitas vezes quando nos sentimos inseguros com a possibilidade da “perda” do vínculo, incerteza sobre traição ou o risco de um abandono iminente. Geralmente surge quando a presença de uma terceira pessoa ameaça nosso relacionamento especial.
Pode-se considerar uma emoção confusa e explosiva porque combina amor, medo, ansiedade, impotência, raiva e resulta, muitas vezes, em comprometer ou fragilizar o relacionamento que é justamente o que a pessoa tanto deseja proteger.
Até aqui falamos em sentimentos, mas ciúme também envolve pensamentos, como: ele (a) está interessado em outra pessoa, ele(a) vai me deixar, se ele(a) for em tal lugar pode encontrar alguém mais interessante que eu, preciso saber exatamente o que está acontecendo, eu vi ele(a) olhando de forma diferente para tal pessoa.
Como esses pensamentos de ciúme se formam
Um dado relevante a ser considerado é que pensamentos nem sempre são fatos concretos. Eles são influenciados pela nossa percepção, desenvolvida a partir de nossas experiências durante a infância e reforçadas ao longo da vida.
A forma como nos vinculamos com as pessoas desde nossos primeiros relacionamentos, com cuidadores, (para saber mais leia esse post que escrevi sobre apego) experiências de perda, abandono, quebra de confiança, separação dos pais, traição em relacionamentos anteriores, são experiências que podem contribuir para o desenvolvimento de crenças de que poderemos ser deixados pelas pessoas que amamos. Estamos falando, então, que algumas vezes essa experiência anterior pode contribuir para o desenvolvimento de crenças disfuncionais e isso não é o mesmo que fatos concretos.
Uma pista para identificar como você lida hoje em dia com suas relações íntimas, é tentar responder a si mesmo algumas destas perguntas: Você costuma sentir-se confortável com a proximidade? A proximidade causa incômodo? Sente-se sufocado? Experimenta ansiedade e medo de que algo aconteça? Termina logo quando sente que o relacionamento parece estar ficando sério?
Comportamentos comuns diante do ciúme
Com base nestes sentimentos e pensamentos “ciumentos”, pode-se esperar atitudes que vão desde passar a seguir, espionar e-mails e mensagens trocadas, examinar mochilas, malas e roupas usadas para verificar alguma marca ou perfume diferente, indagar pessoas próximas que possam ter alguma informação. Já outras pessoas reagem com gritos, choro, se distanciam ou até mesmo respondem com um profundo silêncio.
Alguns comportamentos comuns diante do ciúme envolvem: interrogar constantemente a pessoa; procurar indícios que confirmem a ocorrência de traição, tentar controlar a pessoa sobre onde vai, com quem vai, quando volta, com quem está falando, se conheceu alguém, está falando com muita frequência, punir e preocupar-se obsessivamente com uma possível traição.
De acordo com suas crenças pessoais, há quem acredite que seu par precisa sentir ou demonstrar ciúme para significar que ama. Inclusive em alguns contextos, um dos pares provoca ciúme como se fosse a estratégia de um jogo para reafirmar-se de que o(a) parceiro(a) está comprometido(a). Contudo, sabe-se que na prática, essa atitude tende a aumentar a incerteza e desconfiança no relacionamento.
Diante de tudo que já foi exposto aqui você deve estar se perguntando, se é realmente “normal” sentir ciúme. A questão central é a forma como respondemos a esses sentimentos e pensamentos que podem se tornar um problema, quando forem de alta intensidade, provocar desgaste e conflitos, ou mesmo ansiedade.
Todos nós estamos sujeitos a sentir ciúme, mas há maior vulnerabilidade em pessoas inseguras, com baixa auto estima, baixa autoeficácia e esquemas de desconfiança. Já sabemos que o ciúme é uma emoção humana, mas a grande questão é como somos afetados por ele. Ele de alguma forma interfere e/ ou prejudica as suas relações? Você se sente ressentido e rumina pensamentos sobre isso? Se sente deprimido e sem esperanças? Fala coisas que depois trazem arrependimento? Ele controla a sua vida, ou você consegue gerenciar essa emoção quando ela se faz presente?
Quando sentimos ciúme, experimentamos algo como um alarme que fica chamando atenção para tomar uma atitude já que o nosso mundo parece estar desmoronando. Não agimos, muitas vezes, após refletir sobre o que acontece, mas sim reagimos de forma primitiva a uma detecção de ameaça. Estamos determinados a encontrar indícios que comprovem a nossa suspeita. Qualquer um serve, até os menores e mais improváveis. Como resposta a isso, podemos ficar ansiosos, agitados, raivosos e deprimidos e tratar nossos pensamentos como se fossem fatos.
Como posso lidar melhor com o ciúme
O ciúme, quando não bem gerenciado, pode ser encarado como útil ao apontar para áreas do relacionamento que precisam de atenção. Assim como pode indicar áreas “cinzentas” sobre a sua autopercepção, percepção sobre os outros e seus relacionamentos. Esse pode ser um forte indício de que você precisa de ajuda profissional através de psicoterapia.
A psicoterapia pode ajudar com ferramentas para colocar o ciúme em perspectiva para que não controle mais a sua vida. Você pode compreender melhor sobre as suas crenças a respeito de si mesmo, e sobre os outros, ajudá-lo a identificar experiências que reforçaram essas crenças, mas que nem sempre são funcionais. Além disso, perceber como esses elementos podem levá-lo a ter reações exageradas, tirar conclusões precipitadas e/ ou prejudicar a sim mesmo. Por fim, ajudá-lo com estratégias de enfrentamento para a mudança de pensamentos e comportamentos disfuncionais.
Se você quiser se aprofundar neste tema, eu recomendo um excelente livro: A Cura do Ciúme, cujo autor, Robert Leahy, escreveu com linguagem acessível e que pode ajudá-lo a refletir sobre muitas das questões levantadas neste texto.
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