O mês de janeiro entrou para o calendário de campanhas de promoção de saúde, especialmente para conscientizar a população que cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física. Já falamos sobre a campanha Janeiro Branco, assim como sobre sinais de alerta sobre saúde mental, para ajudar você a identificar indícios quando nem tudo estiver indo tão bem, considerando que muitos deles são silenciosos e vão se “encaixando” na nossa vida, sem pedir licença.

A partir das postagens anteriores recebi a demanda de escrever sobre ações voltadas ao autocuidado e que podem servir de prevenção para o enfrentamento de desafios em saúde mental.

Antes de tudo é importante falar que tomar certos cuidados não deixam você e eu imunes de sofrermos com alguns sintomas de ansiedade ou depressão, por exemplo, mas certamente nos deixam mais fortalecidos para enfrentá-los e superá-los, antes que causem transtornos maiores.

Podemos fazer um paralelo se pensarmos que não fumar, por exemplo, nos ajuda a evitar desenvolver câncer de pulmão. Mas embora seja um fator importante de prevenção, não impede o desenvolvimento da doença porque, de modo geral, elas não possuem uma causa única. O desenvolvimento delas é influenciado por uma interação complexa de vários fatores: desde genéticos, ambientais, sócio-econômicos, estilo de vida, imunidade entre outros.

Assim como, se você adotar um estilo de vida saudável contribui para melhorar a sua imunidade e com isso reduzir danos ou diminuir as chances de contrair doenças físicas, cuidar da sua saúde mental é como se fosse uma forma de você melhorar a sua “imunidade” para o desenvolvimento de transtornos emocionais e deixá-lo mais resiliente para lidar com os desafios cotidianos.

Como você pode ver não estamos falando de aspectos separados, somos seres biopsicosociais. Tudo está muito bem interligado e precisa funcionar como uma orquestra, de forma harmônica. É pouco provável que estejamos bem emocionalmente se estivermos desestabilizados fisicamente, e vice-versa.

Então vamos às sugestões para cultivar saúde mental

  • Praticar exercícios com regularidade – Essa prática está associada não apenas ao ganho de saúde física, mas também à melhora na saúde mental, uma vez que ajuda a reduzir o estresse, a ansiedade e sintomas de depressão, entre outros. Não se preocupe em ter que fazer a “melhor” atividade mesmo que você não goste. O importante é que você encontre uma atividade que lhe proporcione maior satisfação, para que se torne um hábito prazeroso e regular. Pode ser caminhada, corrida, yoga, natação entre outras.
  • Alimentar-se de forma equilibrada e balanceada – seguir uma rotina alimentar, na qual você inclui nas refeições: frutas, legumes, proteínas, grãos, combinando todos os nutrientes essenciais. Seguir um plano alimentar equilibrado contribui para a sua saúde mental.
  • Manter uma rotina de sono saudável – por sono saudável podemos entender que você tenha um sono de boa qualidade, com as horas necessárias para que você acorde com a sensação de ter descansado. Dormir bem nos permite cuidar da nossa capacidade cognitiva que envolve memória, raciocínio e atenção.
  • Investir em relacionamentos saudáveis – ou seja, ter em seu círculo social pessoas significativas, que fazem diferença na sua vida, que sejam suporte emocional e que você sinta que pode contar quando encontra-se diante de uma dificuldade
  • Administrar o estresse – O gerenciamento do estresse desempenha um papel crucial na promoção da saúde mental. O estresse crônico e não gerenciado pode ter efeitos negativos significativos no bem-estar emocional e físico, uma vez que interferem diretamente nos níveis de ansiedade e depressão. Práticas de mindfulness, respiração profunda e desligar-se por alguns instantes são recomendadas.
  • Estabelecer limites – ao estabelecer limites você evita problemas oriundos de sobrecarga de tarefas, seja no trabalho formal, doméstico, mas também se aplica às suas relações que nem sempre respeitam suas posições, interesses, visão de mundo. Algumas vezes sentir-se invadido em sua privacidade ou sofrer interferências em suas escolhas causam sentimentos de perda de liberdade.
  • Aprender a lidar com problemas – as situações adversas vão acontecer para você e pra mim, mas o que pode ser melhor gerenciada é a forma de enfrentá-las e solucioná-las. Em vez de remoer situações problemáticas, procurar culpados ou só se lamentar pelos transtornos, pode ser mais funcional buscar formas de resolvê-las para que deixem de trazer impactos negativos.
  • Engajar-se em atividades que trazem o estado mental de satisfação, bem-estar, preenchimento e conexão. Estas atividades podem estar relacionadas com hobbies, lazer, descanso, mas também com o trabalho.
  • Reduzir o uso de redes sociais – o uso em excesso tem trazido problemas relacionados a ansiedade, depressão, transtornos com auto-imagem, comparações injustas nas quais ocorre uma supervalorização de recortes felizes postados por outras pessoas, comparando com a sua realidade. Vale lembrar que, na maioria das vezes, as pessoas postam cenas de destaque, sucesso, prestígio, mas não postam suas dores, medos, fracassos. Todas essas situações estão presentes na vida de qualquer pessoa.
  • Buscar ajuda profissional – nem sempre damos conta de gerenciar todas essas coisas sozinhos. Reconhecer quando isso ocorre e contar com suporte profissional pode ajudá-lo a identificar ativadores de desafios para a sua saúde mental, a aprender formas funcionais de enfrentamento, desenvolver habilidades emocionais entre outras coisas. Não sabe por onde começar? Já escrevi sobre dicas de como escolher um psicólogo por aqui também.

A ausência de um transtorno não significa ter plena saúde mental. Para ilustrar isso, pense em quantas pessoas podem passar a vida toda “definhando” ao evitar desafios pelo receio do julgamento social, caso não seja tudo perfeito. Outra razão comum para isso é não sentirem-se capazes ou suficientes se não forem impecáveis. Aprender a lidar com pensamentos altamente críticos e julgadores é uma estratégia saudável de enfrentamento.

Vale lembrar que cada pessoa é única, possui motivações únicas e razões únicas. Experimente incorporar em sua rotina de autocuidado algumas destas “dicas” para cultivar saúde mental e descubra quais as que funcionam melhor para você.

Agora que já falamos tanto em saúde mental, espero que você esteja mais instrumentalizado a cuidar de si mesmo e também atento para reconhecer quando a ajuda profissional é a melhor alternativa. Mas, acima de tudo, que esse assunto não seja mais uma barreira para você ou para as pessoas que estão no seu círculo social. A dor física e a dor emocional são igualmente importantes e limitantes. Cada uma delas conta com recursos específicos para “curar as feridas”.