A síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional é uma condição de exaustão física, emocional e mental, relacionada ao trabalho. Trata-se de um estresse crônico, resultante de uma exposição prolongada a exigentes situações de trabalho e que não foram bem gerenciadas.

Os dados sobre a síndrome de burnout são alarmantes no mundo todo, mas o que muitas pessoas ainda não sabem é que o Brasil é um dos países com maiores taxas de prevalência.

Desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a Síndrome de Burnout como uma doença e a contemplou no seu código internacional de doenças (CID-11), passou-se a falar mais sobre a síndrome de burnout, suas implicações, prevenção e tratamentos disponíveis.

Informar a população sobre o tema é necessário, urgente e tem contribuído para que, cada vez mais pessoas acometidas por essa condição incapacitante, reconheçam sinais e sintomas e busquem ajuda profissional quando necessário.

Infelizmente, é muito comum vermos trabalhadores que só se percebem adoecidos quando já possuem muitos prejuízos, seja no trabalho, nas suas relações familiares e/ou sociais. Isso porque essa condição tende a evoluir gradualmente, sem que seja notada de imediato, levando a pessoa a acostumar e normalizar a exposição prolongada à fatores de estresse.

Como já mencionado em outros posts deste blog, não há uma única razão para o desenvolvimento de um transtorno, doença ou síndrome. Precisa haver uma combinação de aspectos como predisposição, temperamento, fatores ambientais, estratégias de enfrentamento e estilo de vida. Isso inclusive explica porque algumas pessoas, expostas ao mesmo evento/ ambiente, adoecem e outras não.

Como o mercado de trabalho tem contribuído para o Burnout

O mercado de trabalho tem valorizado cada vez mais, profissionais com competências que vão desde trabalhar bem sob pressão, ser resiliente, trabalhar bem em equipe, saber gerenciar conflitos, estar aberto a mudanças e conseguir manejar situações estressantes. Tais competências são vistas como importantes para adaptar-se a contextos cada vez mais competitivos, exigentes, para garantir o alcance de metas, prazos e para buscar uma carreira ascendente, de destaque.

Não somos todos iguais em relação as necessidades, desejos e projetos de vida.

Sendo assim, essa combinação de características do mercado de trabalho, embora seja desafiadora e instigante para alguns profissionais, é altamente geradora de sofrimento e estresse para outros que não encontram neste contexto o ambiente mais propício para o seu desenvolvimento profissional e pessoal.

Um relato frequente de pessoas que buscam ajuda, quando percebem que algo não vai bem é de sentirem-se “fracas”, incompetentes, desorganizadas e acreditarem ser merecedoras de penalidades por não alcançarem resultados satisfatórios. Porém, quando questionadas se a sua relação com o trabalho sempre foi assim, costumam afirmar que isso vem acontecendo de um tempo para cá, antes eram eficientes, disponíveis, confiáveis para assumirem grandes responsabilidades e não raro, já receberam menções de destaques e honrarias por resultados extraordinários, por parte de suas empresas.

Note que por trás desta narrativa, tem uma pessoa exausta, lutando para manter resultados elevados de desempenho e frustrada por não ser bem sucedida.

Como as características pessoais contribuem para a Síndrome de Burnout

Para compreender como essa síndrome se comporta e encontrar o que há em comum entre as pessoas que evoluem para o adoecimento, alguns estudos sugerem que existem características de personalidade frequentes em pessoas que padecem com a síndrome de burnout. Atente-se que não quer dizer que se você se reconhece com essas características, logo você tem ou terá burnout, mas significa que essas características podem ser consideradas como fatores de vulnerabilidade para o desenvolvimento, dentre elas, podemos citar:

  • Perfeccionismo – são pessoas que buscam elevados padrões de desempenho para si, não medindo tempo e energia dispensadas nas tarefas. Não se contentam com o bom, perseguem sempre o ótimo;
  • Alto nível de comprometimento e dedicação – inclusive priorizando trabalho sobre todas as outras necessidades, sendo difícil desconectar-se até mesmo aos fins de semana, feriados e etc;
  • Padrões inflexíveis associados a menor tolerância a frustrações – para essas pessoas é difícil lidar com imprevistos ou falhas. Se necessário dedicam ainda mais tempo ao trabalho para compensá-los;
  • Dificuldade de delegar ou pedir ajuda – se sobrecarregam com tarefas que poderiam ser compartilhadas. Algumas vezes isso ocorre por auto-exigência, outras por receio de parecerem ineficientes aos outros, ou simplesmente por receio de importunar alguém;
  • Dificuldade de estabelecer limites – podem aceitar mais e mais tarefas, sobrecarregando-se além do que seria viável para uma pessoa só realizar. Algumas vezes isso pode ocorrer por insegurança de posicionar-se, outras porque o indivíduo prioriza o trabalho e encontra satisfação em dedicar-se intensamente às suas atividades laborais;
  • Não delimitar vida pessoal e profissional – mais comumente são pessoas que abdicam de momentos com a família e/ ou amigos, sob a justificativa de terem que trabalhar;
  • Avaliação negativa de si mesmo – isso pode gerar ansiedade e insegurança quanto ao seu desempenho, necessitando provar o tempo todo o seu alto comprometimento e padrão de resultados.

Agora que falamos sobre exigências do mercado de trabalho atual e características comuns de trabalhadores que lidam com a síndrome de burnout, avalie que combinação explosiva pode acontecer…

Para ajudá-lo a perceber se a síndrome de burnout está “rondando” a sua vida, ou quem sabe de um amigo, familiar ou colega de trabalho, cito abaixo alguma falas que podem acender a luz de alerta. São falas reais que diariamente são ditas em consultório por pessoas que lidam com esse desafio e nem sempre “ligaram os pontos” para compreender do que se trata, mas já encontram-se em sofrimento e reconhecem a necessidade de buscar ajuda profissional.

“Não sei o que está acontecendo comigo, sempre trabalhei sob pressão, agora não estou aguentando as cobranças”

Com o passar do tempo a pessoa começa a sentir prejuízos em suas entregas e para tentar contornar atrasos, dedica mais e mais horas laborais. Associado a isso, sente que não está performando bem e entende isso como uma falha, exclusivamente sua, chegando muitas vezes a questionar-se sobre a sua capacidade profissional. O desdobramento disso é acreditar que se não voltar a ser como antes, pode ser demitido a qualquer momento.

“Se fazendo tudo o que eu estou fazendo já estou sob ameaça de ser mandado embora, imagina se eu não fizer.”

Ao sentir-se em “desvantagem” na relação profissional ou pouco competente não se vê em condições de estabelecer limites ou de negociar prazos e/ou entregas. Aceita mesmo sabendo que está com poucas condições de realizá-las. Da mesma forma, justifica que não pode deixar de repetir os comportamentos problemáticos de sobrecarga, pois seria mal visto pelo seu empregador.

“Acordo de madrugada, assustado, pensando que o meu gestor está me chamando para delegar mais uma tarefa”.

Relatos de perda de qualidade de sono, envolvendo dormir poucas horas, não conseguir dormir ou despertar muito antes do horário habitual. Uma qualidade de sono ruim compromete a nossa capacidade de concentração, memória, raciocínio. Após algumas noites mal dormidas, a pessoa já acorda cansada, algumas vezes com dor de cabeça, dispersa e com mais dificuldade de produzir satisfatoriamente. Dormir é uma necessidade fisiológica imprescindível à vida, ainda que alguma pessoas digam que é perda de tempo.

“Cada vez que entra uma mensagem pela ferramenta de comunicação interna, eu penso que é o meu gestor me chamando atenção”

A percepção de não estar conseguindo fazer um bom trabalho, por maior o esforço que faça, pode desencadear sentimentos de que algo ruim vai acontecer, que poderá ser exposto ou repreendido.

“Em muitos momentos o trabalho era o que me salvava, agora é o que mais me tira a paz”

Para muitas pessoas, em diversos momentos de vida, o trabalho tem um papel muito importante, gera reconhecimento, percepção de capacidade e potência. Para aquelas que tem essa área da vida como algo de grande valor, pode mostrar-se um ponto de equilíbrio quando outras não vão muito bem.

“Não tenho vontade de sair de casa, estou sempre cansado.”

Essa é uma evidência de que os prejuízos já são perceptíveis na vida pessoal. A exaustão e falta de energia pode levar a pessoa a evitar eventos sociais, familiares, optando por ficar mais reclusa.

Se frases como essas têm ressoado em sua cabeça, avalie como está a sua relação com o trabalho. Faça pausas, avalie as suas prioridades, considere conversar com a sua liderança sobre possíveis mudanças no ambiente ou na dinâmica das atividades, encontre atividades prazeirosas fora do trabalho, busque a sua rede de apoio (familiares, amigos) e também ajuda profissional.