A vulnerabilidade emocional pode ser compreendida como uma maior suscetibilidade a sofrer danos ou ser afetado negativamente por alguma situação, ameaça ou risco. É como se perceber em uma posição frágil, onde é mais difícil se proteger ou se defender contra adversidades.

O que significa Vulnerabilidade Emocional?

Para ficar mais claro, poderíamos entender que uma casa com portas destrancadas está mais vulnerável a invasões, da mesma forma que uma pessoa sem um casaco em um dia de muito frio está vulnerável a ficar resfriada. Usando a mesma lógica, podemos pensar que uma pessoa que faz uma pergunta em uma reunião está mais vulnerável ao julgamento dos pares, ou alguém que ministra uma palestra, está mais vulnerável às críticas de quem assiste.

A vulnerabilidade pode ser física, emocional, digital, social, entre outras, e envolve a percepção de perda de controle, fragilidade, exposição, falta de proteção ou não possuir os recursos necessários para lidar com determinados desafios.

Aqui neste post vamos nos concentrar em aspectos de vulnerabilidade emocional, já que é um tema frequente nos atendimentos e o medo de parecer vulnerável diante dos outros costuma ser percebido como uma demonstração de fragilidade, falha pessoal e por vezes leva a pessoa a sentimentos incapacitantes.

Embora esse receio seja uma resposta natural, observa-se que muitas pessoas evitam correr esse tipo de “risco” como forma de autopreservação ao que interpretam como perigo de exposição e julgamento. Assim, parece ser mais aceitável correr o risco de passar uma vida inteira esperando atingir a perfeição para entrar na arena da vida.

O que faz as pessoas se sentirem vulneráveis?

Podemos listar uma variedade de razões que levam as pessoas a sentirem-se vulneráveis. Com frequência essas pessoas relatam terem tido como modelos, cuidadores com padrões mais inflexíveis sobre demonstração de vulnerabilidade ou que invalidavam as suas emoções, de forma que as fizeram acreditar que não poderiam expor suas inseguranças para evitar que fossem desaprovadas ou rejeitadas. Veja outras possíveis causas:

  1. Medo de Julgamento externo: As pessoas frequentemente temem que, ao demonstrarem vulnerabilidade, sejam julgadas de forma negativa pelos outros. Isso pode criar insegurança sobre como serão percebidas e se as outras pessoas as respeitarão ou as aceitarão com as suas imperfeições.
  2. Pressões Sociais: A sociedade, muitas vezes, valoriza a ideia de ser forte, independente e autossuficiente. Neste caso, mostrar vulnerabilidade poderia ser considerado um sinal de fraqueza, o que poderia levar as pessoas a esconderem seus sentimentos e dificuldades. Não é a toa que ainda hoje muitas pessoas temem o preconceito quando verificam a necessidade de ajuda profissional para lidar com seus desafios emocionais. (que bom que isso já está mudando!!)
  3. Vivências anteriores: Traumas ou experiências negativas do passado podem levar as pessoas a construírem uma espécie de “armadura emocional” para protegerem-se e evitar serem machucadas novamente. Elas podem acreditar que mostrar vulnerabilidade as tornará alvos de mais dor ou exposição.
  4. Regras definidas sobre gênero: Em muitas culturas, as expectativas dirigidas em relação ao gênero desempenham um papel importante em evitar a demonstração de vulnerabilidade. Isso ocorre quando se cria uma regra de que “os homens devem ser fortes” e não podem mostrar emoções, especialmente chorar. As mulheres “devem ser sempre cuidadoras”, passivas e resignadas, não podem ser competitivas e combativas.
  5. Percepção sobre si mesmo: o autojulgamento e autocríticas faz com que algumas pessoas interpretem a vulnerabilidade como uma falha pessoal, mesmo que isso não seja verdade. Nossa cultura é pouco tolerante às falhas, erros ou deslises, como se tivéssemos que acertar o tempo todo.
  6. Falta de Habilidades de Comunicação Emocional: Algumas pessoas podem não saber como expressar suas emoções de maneira eficaz, o que as leva a evitar a exposição da vulnerabilidade. Vale lembrar que desde muito cedo somos expostos a aprender a lidar com as nossas emoções, mas nem sempre nos ensinam que todas as emoções são importantes e devem ser respeitadas. Quantos de nós já ouvimos que é feio sentir raiva do amiguinho que quebrou o brinquedo preferido?
  7. Medo das consequências: Em certos contextos, mostrar vulnerabilidade pode ter implicações negativas, como em um ambiente de trabalho em que a exposição pode levar a retaliações ou perda de oportunidades.
  8. Cultura Organizacional: Em algumas organizações ou grupos, uma cultura de competição ou um ambiente que não valoriza a expressão de pensamentos e sentimentos pode encorajar as pessoas a manterem uma fachada de invulnerabilidade. O risco de ser mal visto porque questionou algo que não foi percebido como justo ou transparente, leva diversos colaboradores a se calarem e às vezes se isolarem.

E o que fazer para lidar com a vulnerabilidade?

Lidar com a própria vulnerabilidade psicológica é um desafio comum, mas importante para o crescimento pessoal e bem-estar emocional. Aqui estão algumas estratégias para ajudar você a enfrentar a sua vulnerabilidade de maneira saudável:

  1. Autoconhecimento: Invista em se conhecer profundamente. Identifique suas emoções, medos e inseguranças a cada situação vivida. Quanto mais você entender a si mesmo, mais capaz será de lidar com a sua vulnerabilidade.
  2. Aceitação: Reconheça que a vulnerabilidade é uma parte natural da experiência humana. Todas as pessoas vivenciam momentos de fraqueza e insegurança em algum momento. Aceitar isso como normal pode aliviar parte do estigma associado à vulnerabilidade.
  3. Compartilhe com Pessoas da sua Confiança: Encontre amigos, familiares ou um psicólogo em quem confie e com quem possa compartilhar seus sentimentos e preocupações. Falar sobre suas vulnerabilidades pode aliviar a pressão emocional, além de gerar mais conexão. Procure lembrar de alguma situação que alguém dividiu um sentimento difícil de lidar com você. Possivelmente você compreendeu como a pessoa se sentia e percebia uma situação, o que dever ter ficado mais fácil de entender como ajudá-la.
  4. Desenvolva habilidades de comunicação emocional: Aprenda a expressar suas emoções de maneira clara e eficaz. Isso envolve aprender a comunicar o que você sente e precisa de maneira construtiva. Sabe quando você não está bem e precisa de um “colo” ou de um “ombro amigo”? Se você se permitir comunicar isso as suas chances de receber são maiores.
  5. Exercite a autocompaixão: Trate-se com a mesma gentileza e compaixão que trataria um amigo que está passando por um momento difícil. Evite se criticar severamente por estar vulnerável. Essa dica é importante porque normalmente somos acolhedores com os amigos, familiares e colegas, mas quando se trata de acolhermos a nossa própria dor, agimos com crítica e julgamento, como se estivéssemos errados.
  6. Evite fazer comparações injustas: ao observar alguém e o seu desempenho, avalie também se essa pessoa encontra-se no mesmo nível de desenvolvimento que você. Não é justo se comparar com alguém que já pratica uma determinada tarefa há muito mais tempo e portanto já teve oportunidade de aprimoramento.
  7. Estabeleça limites saudáveis: Saiba quando dizer “não” e estabeleça limites pessoais. Reconhecer seus limites pode ajudar a proteger sua saúde emocional e evitar situações que o tornem mais vulnerável.
  8. Cuide de sua Saúde Mental e Física: Praticar o autocuidado, como fazer exercícios, meditar e dormir o suficiente, pode ajudar a fortalecer sua capacidade de lidar com a vulnerabilidade.
  9. Aprenda com experiências do passado: Reflita sobre como você lidou com momentos de vulnerabilidade no passado e quais lições pode extrair dessas experiências para crescer e se fortalecer. Ser resiliente e, em vez de ruminar momentos desafiadores, se recuperar de situações difíceis, encarando-as como oportunidade de aprendizado, ajuda muito a lidar melhor com a vulnerabilidade.
  10. Busque Apoio Profissional: Se suas vulnerabilidades causarem sofrimento significativo ou impactarem negativamente sua vida, considere a busca de ajuda de um psicólogo. Ele pode oferecer, através da psicoterapia, orientação e ajudá-lo a definir as estratégias que melhor se aplicam no seu caso, para lidar com suas emoções de forma mais saudável.
  11. Defina objetivos realistas: Defina metas realistas para si mesmo, reconhecendo suas limitações e desafios adequados para o seu momento. Isso pode ajudar a reduzir a pressão que você coloca sobre si mesmo em atender demandas que você não domina, o que poderia gerar mais sentimentos de vulnerabilidade ao erro ou fracasso.

É importante lembrar que ser vulnerável não é necessariamente ser frágil. Na verdade, mostrar vulnerabilidade pode demonstrar coragem e autenticidade. É um aspecto importante da experiência humana que pode ser abraçado e usado como uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal e relacional.

Superar o medo de parecer vulnerável pode levar a relacionamentos mais profundos e significativos, além de promover um maior bem-estar emocional. Quando gerenciado de maneira saudável, pode levar a uma maior conexão com os outros, ao crescimento pessoal e à autenticidade.

Cada pessoa é única, e a abordagem para lidar com a vulnerabilidade pode variar de indivíduo para indivíduo, dependendo das circunstâncias e do ambiente em que se encontram.

Para finalizar, deixo uma citação do livro “A coragem de ser imperfeito”, no qual a escritora e pesquisadora da Universidade de Houston, Brené Brown, escreve brilhantemente sobre vulnerabilidade. “Viver com ousadia não tem nada a ver com ganhar ou perder (…) Nada é mais incômodo, perigoso e doloroso do que constatar que estou do lado de fora da minha vida, olhando para ela e imaginando como seria se eu tivesse a coragem de me mostrar e deixar que me vissem”.

Esse conteúdo fez sentido para você? Como você tem se sentido em relação a sua vulnerabilidade?